Blog

Os Novos Indicadores do RH: Além do Turnover e do Time-to-Hire

Quando falamos em indicadores de Recrutamento & Seleção (R&S), turnover e time-to-hire quase sempre aparecem primeiro. Eles são importantes, mas dizem pouco sobre qualidade, eficiência real e impacto no negócio. Como especialista em RH, trago abaixo um guia prático — em linguagem simples — com métricas que ampliam a visão e ajudam sua empresa a contratar melhor, mais rápido e de forma sustentável.


1) Qualidade da contratação (Quality of Hire – QoH)

Pergunta que responde: Estamos contratando bem?

Como medir (exemplo simples):
QoH = média padronizada de 3 a 5 indicadores após 90 dias. Sugestões:

  • Performance do novo(a) contratado(a) (nota de 0–100)
  • Aderência cultural (0–100)
  • Satisfação do gestor (0–100)
  • Tempo para produtividade (mais abaixo) convertido para 0–100

Exemplo: (80 + 70 + 85 + 75) ÷ 4 = 77,5 → sinal de boa contratação, porém com espaço para melhorar aderência cultural.

Uso prático: compare QoH por vaga, área e fonte de candidatos. Isso orienta investimentos em canais e ajustes no perfil.


2) Tempo para produtividade (Time-to-Productivity – TtP)

Pergunta que responde: Em quanto tempo a pessoa começa a gerar resultado?

Como medir: dias entre a data de início e a primeira evidência objetiva de performance (ex.: meta atingida, 1º projeto entregue com qualidade).

Por que importa: reduz custo de vacância e acelera ROI da contratação. Combine com dados de onboarding para descobrir quais ações encurtam o TtP.


3) Retenção em 90 dias (Early Attrition)

Pergunta que responde: As pessoas novas estão ficando?

Como medir: % de admitidos que permanecem após 90 dias.
Por que importa: saídas precoces apontam falhas de seleção, proposta de valor ou integração.
Meta saudável (varia por setor): acima de 90% já indica boa saúde do processo.


4) Taxa de aceitação de ofertas (Offer Acceptance Rate – OAR)

Pergunta que responde: Nossa proposta é competitiva e convincente?

Como medir: ofertas aceitas ÷ ofertas emitidas.
Análises úteis:

  • Quebrar por faixa salarial, senioridade, área, canal.
  • Registrar motivos de recusa (compensação, remoto, jornada, cultura).

5) Experiência do candidato (Candidate NPS)

Pergunta que responde: Como os candidatos avaliam nosso processo?

Como medir: NPS (0–10) ao final do processo, para aprovados e reprovados.
Uso prático: monitore por etapa (triagem, entrevista, case) para corrigir gargalos.
Dica: respostas abertas viram ouro para melhoria contínua.


6) Eficiência do funil (Funil de R&S)

Pergunta que responde: Onde perdemos eficiência?

Indicadores-chave:

  • CVs qualificados ÷ CVs recebidos
  • Entrevistas ÷ candidatos qualificados
  • Propostas ÷ finalistas
  • Contratações ÷ propostas (OAR)

Sinais de alerta:

  • Entrevista-para-oferta muito alto → critérios confusos ou cases mal calibrados.
  • CVs qualificados baixos → job description pouco clara ou canais inadequados.

7) Diversidade no pipeline

Pergunta que responde: Temos equidade de acesso e avanço no processo?

Como medir: composição do pipeline por grupos sub-representados em cada etapa (topo → contratação).
Uso prático: identifique quedas desproporcionais e revise critérios, linguagem da vaga e comitês de entrevista.

Boas práticas: linguagem neutra, lista estruturada de critérios, entrevistadores treinados contra viés.


8) Custo de vacância (Cost of Vacancy – CoV)

Pergunta que responde: Quanto perdemos por posição em aberto?

Como medir (estimativa):
CoV por dia = (Receita/colaborador/dia ou valor de oportunidade) + custo de horas extras/redistribuição.
CoV total = CoV por dia × dias de vacância.

Por que importa: dá peso financeiro a prioridades de contratação e ao SLA do processo.


9) SLA das etapas & previsibilidade

Pergunta que responde: Cumprimos os prazos acordados?

Como medir: % de processos dentro do SLA em cada etapa (triagem em 48h, agendar entrevista em 72h, feedback em 48h etc.).
Benefício: melhora a experiência do candidato e aumenta a taxa de aceitação.


10) Capacidade e carga do recrutador

Pergunta que responde: O time está dimensionado corretamente?

Como medir:

  • Vagas ativas por recrutador
  • Processos concluídos/mês
  • Tempo dedicado por etapa (triagem, entrevistas, alinhamentos)

Uso prático: sustenta pedidos de headcount, automação ou suporte de business partners.


11) Eficácia por canal de atração

Pergunta que responde: Onde investir para contratar melhor e mais barato?

Como medir: contratações, QoH e TtP por fonte (indicação, LinkedIn, base interna, consultoria, job boards, talent pools).
Decisão: priorize canais com melhor QoH e menor CoV, não apenas com mais currículos.


12) Mobilidade interna e “talent density”

Pergunta que responde: Estamos aproveitando nossos talentos?

Como medir:

  • Taxa de preenchimento interno (promoções/movimentações)
  • Tempo médio para promoção
  • % de high performers por área (talent density)

Por que importa: reduz CoV, TtP e eleva engajamento.


13) Indicadores de marca empregadora

Pergunta que responde: Nosso employer branding funciona?

Como medir:

  • Candidatos/vaga & % qualificados
  • Tráfego orgânico nas páginas de carreira
  • Engajamento em conteúdo de EVP
  • Candidate NPS (reforçando)

14) Indicadores de compliance e justiça no processo

Pergunta que responde: Nosso processo é ético, consistente e auditável?

Como medir:

  • Reprovas justificadas por critério objetivo
  • Entrevistas com guia estruturado aplicado
  • Registros de feedback enviados no prazo

De “métricas soltas” a história de negócio

Evite um dashboard “árvore de natal”. Construa narrativas:

  1. Eficiência
    SLA por etapa → queda no OAR? → impacto no CoV.
  2. Qualidade
    QoH por canal → TtP por área → Retenção 90d.
  3. Equidade
    Diversidade por etapa → treinamentos → evolução do Candidate NPS.

Exemplo rápido (case fictício)

  • OAR caiu de 78% para 61% em vagas tech senior.
  • Candidate NPS nessa trilha caiu de 61 para 44; principais queixas: longo tempo de feedback e salário abaixo do mercado.
  • SLA mostra atraso médio de +5 dias entre entrevista técnica e comitê final.
  • Resultado: CoV por vaga aumentou em R$ 18 mil.
    Plano de ação: ajustar faixa salarial, reservar bloco semanal para comitê, enviar feedback em 48h padronizado, piloto de desafio técnico assíncrono. Reavaliar em 60 dias.

Como começar em 5 passos

  1. Defina 3–5 metas anuais do negócio (crescer receita, reduzir churn, abrir filial etc.).
  2. Selecione indicadores críticos que explicam essas metas (QoH, TtP, OAR, CoV, Diversidade).
  3. Padronize conceitos e coleta (glossário e formulários simples).
  4. Monte um painel enxuto (semanal para SLA/eficiência; mensal para qualidade/estratégico).
  5. Crie rituais de decisão: review mensal com RH + gestores para transformar dados em ações.

Erros comuns (e como evitar)

  • Foco só em velocidade → incluir qualidade e experiência.
  • Comparar áreas diferentes sem contexto → normalize por senioridade e complexidade.
  • Definições ambíguas → crie um glossário.
  • Medir e não agir → cada indicador precisa de dono, meta e plano.

Modelo de glossário (trecho para copiar/colar)

  • QoH (Quality of Hire): média de performance 90d, aderência cultural, satisfação do gestor e TtP normalizado.
  • TtP (Tempo para Produtividade): dias até a 1ª entrega no padrão da área.
  • OAR (Offer Acceptance Rate): ofertas aceitas ÷ ofertas emitidas.
  • CoV (Custo de Vacância): custo/dia × dias da posição em aberto.
  • Candidate NPS: promotores (9–10) – detratores (0–6).
  • SLA de R&S: prazos padronizados por etapa (ex.: feedback em 48h).

O site utiliza cookies e outras tecnologias para melhorar a sua experiência. Ao continuar navegando, você concorda com a utilização dessas tecnologias, como também, concorda com os termos da nossa política de privacidade.